Subida ao Monte Sinai em 2012
Queria compartilhar com vocês este post repleto de nostalgia e experiências para quem um dia pretende fazer a mesma jornada.
Saímos do Cairo às 10h da manhã em direção a Taba, uma cidade na península do Sinai. O guia explica que desde os anos 60, a região pertencia a Israel, mas em 2005 foi devolvida oficialmente ao Egito. Com medo de uma nova intifada israelense, os egípcios controlam todo acesso a esta região fazendo blitz militar pelas rodovias e Israel controla o acesso ao meu objetivo maior nesta viagem. Primeira parada e vimos 3 militares extremamente armados ao lado de um tanque de guerra. O agente federal que estava no ônibus para garantir nossa segurança (e a do seu país) negocia, explica, mostra documentos. Quinze minutos perdidos. Voltamos a andar. Um estrada estreita com apenas uma pista para ir e voltar, bem asfaltada e sinalizada, sem trânsito. Por algumas horas vimos o canal de Suez de longe e o mar Vermelho. No restante da viagem a paisagem foi a mesma: deserto e muitas montanhas.
Apesar da monótona paisagem, pude ver coisas estranhas para nossa cultura. Paramos para almoçar em um hotel e pudemos apreciar o mar Vermelho tão limpo e azul. Mulheres árabes nadavam de túnica. No final da tarde, vi um carro parado com a porta aberta no acostamento e um homem de túnica ajoelhado em um tapetinho. Um árabe fazendo uma das rezas do dia no horário fixo de sua religião. Incrível, um choque de culturas, frio na barriga, que loucura! Tudo que eu esperava desta viagem estava acontecendo com sucesso. Refleti sobre toda essa experiência que eu só via pelo noticiário internacional sensacionalista e manipulador. Era muito bom ver tudo aquilo de perto, apesar dos riscos. Eu conseguia entender plenamente cada situação porque sempre gostei muito de história e considero que só podemos entender bem qualquer coisa na vida se conhecemos sua história. Tudo aquilo me empolgava ainda mais. Já estava planejando isso há mais de 1 ano e sonhado há pelo menos 10.
Após 13 horas de viagem interrompidas por mais de dez blitz, almoço e paradas chegamos ao hotel em Taba. Tinha menos de 1 hora para fazer check-in, tomar um banho, comer e pegar outro ônibus que me levaria ao início da minha verdadeira jornada.
Meia noite em ponto o ônibus saiu com destino a Saint Catherine. Atravessamos o portal da cidade e paramos uma e meia da manhã. Outros ônibus chegaram e esperavam conosco. Às duas horas, um carro chega e começamos a seguí-lo. É o guia do comboio. Ninguém sobe ou desce sem ele. Qualquer coisa que se mova nesta região sem ele será considerado um alvo, será bombardeado. É o controle israelense garantindo o acordo entre Egito e Israel na devolução da península do Sinai. Vinte minutos de subida vertiginosa e chegamos. Vários grupos de pessoas esperavam na a entrada principal que dava acesso a base do monte. Às 3h, os guias locais liberam a entrada. Começamos andar. A luz da entrada principal vira um ponto no meio da escuridão. Não conseguiamos ver o chão nem para onde estávamos indo, apenas seguiamos o guia. Alguém acendeu uma lanterna, mas só víamos nosso pé pisando em monte de areia. Em meia hora de caminhada comecei a sentir a garganta seca e a respiração ficar difícil. Era só o começo.
Nos deparamos com uma inclinação. Começamos a andar apoiando as mãos nas rochas que brotavam do chão. Mais meia hora assim e a maioria do pessoal já estava com dor nas pernas e braços. Alguns começaram a passar mal, não conseguiam respirar ou estavam com a pressão baixa. O guia disse "vamos fazer uma parada na próxima curva". Não dava para ver nada. Ele apontou e vi uma pequena luz. Andávamos agora em uma inclinação com muitas pedras e rochas que foram cortadas para fazer o caminho. Chegamos na parada e um alguns beduínos vendiam água e ofereciam chá. Eu só queria respirar direito. Metade do grupo fica e desiste. Prossigo com o grupo que vai. Olho para o céu e vejo algo que jamais havia visto: o céu com um azul marinho intenso e milhares de estrelas. Ainda guardo essa imagem em minha mente. Crio mais ânimo para prosseguir e ver o que mais pode me surpreender nesta jornada.
Mais uma hora de caminhada e já são 5h da manhã. Agora conseguimos ver muito pouco e de longe uma fenda de rochas que sinaliza que o topo do monte esta próximo. Andamos, andamos e andamos e parece que não alcançamos a fenda. Paro de olhar para ela e me concentro na respiração. Ignoro a dor nas pernas, nos braços, o frio no rosto e nas mãos e a transpiração constante do meu corpo, como se eu estivesse com febre. Na escuridão, vejo um pequeno ponto de luz no horizonte. Em poucos minutos esse ponto se moveu e ficou mais intenso, maior e agora resplandecia completamente sobre nós e sobre os montes, destacando a cor avermelhada das rochas. Ver o nascer do sol não estava na lista.
Chegamos a fenda e paramos para respirar em uma esplanada natural incrível. O guia nos orienta que falta apenas uma subida de meia hora para chegar no topo com famosos 750 degraus de pedras e rochas. Foi para isso que eu estava ali, para chegar ao topo. Mais alguns desistem, mais outros sobem comigo . Na metade do caminho, minhas pernas não respondiam mais como eu queria, meu pulmão doía quando respirava. Faltava muito pouco, mas parecia que eu não ía suportar. Um colega olha para trás e volta. Estava tudo bem, eu só precisava de um tempo. Aproveitei e tirei uma self.
Cada vez que subia, podia ver uma parte da cadeia de montanhas que rodeia o monte em meio as nuvens e raios do sol. Uma beleza fascinante exatamente como havia visto nas fotos. Mais alguns minutos e finalmente cheguei lá, no alto do monte Sinai. Agora eu podia ver com amplitude toda a beleza daquele lugar e foi inevitável não perceber que Deus estava ali olhando pra mim.
Finalmente, o sonho de 10 anos atrás estava DONE e eu descia o monte assutada com o caminho ingrime, longo e por vezes perigoso que percorri no escuro. Reencontramos os colegas que ficaram para trás e não haviam palavras que explicassem a sensação de ter chegado ao topo. Infelizmente eles perderam aquela oportunidade. Corremos para pegar o comboio dàs 10h, já que o próximo seria apenas às 14h. Deixei Saint Catherine cheia de novas experiências, infinitas reflexões sobre a vida (que até hoje me pego pensando), conhecendo um pouco mais de mim mesma.
Diário de bordo 20/08/2012 - história e geografia saindo do papel
Saímos do Cairo às 10h da manhã em direção a Taba, uma cidade na península do Sinai. O guia explica que desde os anos 60, a região pertencia a Israel, mas em 2005 foi devolvida oficialmente ao Egito. Com medo de uma nova intifada israelense, os egípcios controlam todo acesso a esta região fazendo blitz militar pelas rodovias e Israel controla o acesso ao meu objetivo maior nesta viagem. Primeira parada e vimos 3 militares extremamente armados ao lado de um tanque de guerra. O agente federal que estava no ônibus para garantir nossa segurança (e a do seu país) negocia, explica, mostra documentos. Quinze minutos perdidos. Voltamos a andar. Um estrada estreita com apenas uma pista para ir e voltar, bem asfaltada e sinalizada, sem trânsito. Por algumas horas vimos o canal de Suez de longe e o mar Vermelho. No restante da viagem a paisagem foi a mesma: deserto e muitas montanhas.
Apesar da monótona paisagem, pude ver coisas estranhas para nossa cultura. Paramos para almoçar em um hotel e pudemos apreciar o mar Vermelho tão limpo e azul. Mulheres árabes nadavam de túnica. No final da tarde, vi um carro parado com a porta aberta no acostamento e um homem de túnica ajoelhado em um tapetinho. Um árabe fazendo uma das rezas do dia no horário fixo de sua religião. Incrível, um choque de culturas, frio na barriga, que loucura! Tudo que eu esperava desta viagem estava acontecendo com sucesso. Refleti sobre toda essa experiência que eu só via pelo noticiário internacional sensacionalista e manipulador. Era muito bom ver tudo aquilo de perto, apesar dos riscos. Eu conseguia entender plenamente cada situação porque sempre gostei muito de história e considero que só podemos entender bem qualquer coisa na vida se conhecemos sua história. Tudo aquilo me empolgava ainda mais. Já estava planejando isso há mais de 1 ano e sonhado há pelo menos 10.
Após 13 horas de viagem interrompidas por mais de dez blitz, almoço e paradas chegamos ao hotel em Taba. Tinha menos de 1 hora para fazer check-in, tomar um banho, comer e pegar outro ônibus que me levaria ao início da minha verdadeira jornada.
Diário de bordo 21/08/2012 - subindo!
Meia noite em ponto o ônibus saiu com destino a Saint Catherine. Atravessamos o portal da cidade e paramos uma e meia da manhã. Outros ônibus chegaram e esperavam conosco. Às duas horas, um carro chega e começamos a seguí-lo. É o guia do comboio. Ninguém sobe ou desce sem ele. Qualquer coisa que se mova nesta região sem ele será considerado um alvo, será bombardeado. É o controle israelense garantindo o acordo entre Egito e Israel na devolução da península do Sinai. Vinte minutos de subida vertiginosa e chegamos. Vários grupos de pessoas esperavam na a entrada principal que dava acesso a base do monte. Às 3h, os guias locais liberam a entrada. Começamos andar. A luz da entrada principal vira um ponto no meio da escuridão. Não conseguiamos ver o chão nem para onde estávamos indo, apenas seguiamos o guia. Alguém acendeu uma lanterna, mas só víamos nosso pé pisando em monte de areia. Em meia hora de caminhada comecei a sentir a garganta seca e a respiração ficar difícil. Era só o começo.
Nos deparamos com uma inclinação. Começamos a andar apoiando as mãos nas rochas que brotavam do chão. Mais meia hora assim e a maioria do pessoal já estava com dor nas pernas e braços. Alguns começaram a passar mal, não conseguiam respirar ou estavam com a pressão baixa. O guia disse "vamos fazer uma parada na próxima curva". Não dava para ver nada. Ele apontou e vi uma pequena luz. Andávamos agora em uma inclinação com muitas pedras e rochas que foram cortadas para fazer o caminho. Chegamos na parada e um alguns beduínos vendiam água e ofereciam chá. Eu só queria respirar direito. Metade do grupo fica e desiste. Prossigo com o grupo que vai. Olho para o céu e vejo algo que jamais havia visto: o céu com um azul marinho intenso e milhares de estrelas. Ainda guardo essa imagem em minha mente. Crio mais ânimo para prosseguir e ver o que mais pode me surpreender nesta jornada.
Mais uma hora de caminhada e já são 5h da manhã. Agora conseguimos ver muito pouco e de longe uma fenda de rochas que sinaliza que o topo do monte esta próximo. Andamos, andamos e andamos e parece que não alcançamos a fenda. Paro de olhar para ela e me concentro na respiração. Ignoro a dor nas pernas, nos braços, o frio no rosto e nas mãos e a transpiração constante do meu corpo, como se eu estivesse com febre. Na escuridão, vejo um pequeno ponto de luz no horizonte. Em poucos minutos esse ponto se moveu e ficou mais intenso, maior e agora resplandecia completamente sobre nós e sobre os montes, destacando a cor avermelhada das rochas. Ver o nascer do sol não estava na lista.
Chegamos a fenda e paramos para respirar em uma esplanada natural incrível. O guia nos orienta que falta apenas uma subida de meia hora para chegar no topo com famosos 750 degraus de pedras e rochas. Foi para isso que eu estava ali, para chegar ao topo. Mais alguns desistem, mais outros sobem comigo . Na metade do caminho, minhas pernas não respondiam mais como eu queria, meu pulmão doía quando respirava. Faltava muito pouco, mas parecia que eu não ía suportar. Um colega olha para trás e volta. Estava tudo bem, eu só precisava de um tempo. Aproveitei e tirei uma self.
Cada vez que subia, podia ver uma parte da cadeia de montanhas que rodeia o monte em meio as nuvens e raios do sol. Uma beleza fascinante exatamente como havia visto nas fotos. Mais alguns minutos e finalmente cheguei lá, no alto do monte Sinai. Agora eu podia ver com amplitude toda a beleza daquele lugar e foi inevitável não perceber que Deus estava ali olhando pra mim.
Finalmente, o sonho de 10 anos atrás estava DONE e eu descia o monte assutada com o caminho ingrime, longo e por vezes perigoso que percorri no escuro. Reencontramos os colegas que ficaram para trás e não haviam palavras que explicassem a sensação de ter chegado ao topo. Infelizmente eles perderam aquela oportunidade. Corremos para pegar o comboio dàs 10h, já que o próximo seria apenas às 14h. Deixei Saint Catherine cheia de novas experiências, infinitas reflexões sobre a vida (que até hoje me pego pensando), conhecendo um pouco mais de mim mesma.
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